quinta-feira, 19 de março de 2009

A vida continua e se entregar é uma bobagem...



Meu pai teve derrame. 3 seguidos. O último, ele não aguentou. Mas antes do último, ele ainda sofreu muito. E era um sofrimento que não acabava.

Eu me lembro de rezar, sem me sentir culpada, mesmo sabendo que não poderia contar para muita gente que rezava assim. Pedi para Deus tirar meu pai do hospital. Não me importava para onde o levasse. Se fosse para ele ir para casa, ótimo. Se fosse para ele ir embora, bom também. Mas que não o deixasse no hospital, porque ele tinha horror a hospital e tinha horror a ficar sozinho. E, como todo hospital público, a gente só podia ficar com ele por, no máximo, 2 horas, nos revezando de 2 em 2. Então ele estava SOZINHO E NO HOSPITAL.

Deus atendeu meu pedido.

E eu não fiquei tão triste quanto todo mundo esperava que eu ficasse. É que eu amava meu pai de uma maneira tão intensa, que eu não queria vê-lo triste. Só queria vê-lo feliz. Mesmo que eu não estivesse.

Mas nos dias que se seguiram, todo mundo achou de me dar os pêsames. Palavra pesada essa, eu acho. Como também é pesado o sentimento que ela carrega. As pessoas deveriam te desejar alegria, te desejar felicidade, porque pesar a gente já tem demais nessas horas.

E eu só pude contar isso para a Glê, porque ninguém mais entendia o meu pedido. A maioria das pessoas acha que a gente tem que se apegar à tristeza, tem que se apegar à pessoa, tem que não querer que ela morra, mesmo que ela sofra. Eu não acho. E a Gleide não achava também.

Mas, se por um lado eu fiquei bem por ele ter ido, por outro, a saudade doía demais. E eu, mesmo não tão triste, chorava de saudade.
É por isso que os bilhetes da Gleide faziam bem para mim. Para amenizar a saudade que eu tinha do meu pai. Ela era a única que entendia que eu nunca chorei de tristeza. Só chorei de saudade.

Um comentário:

  1. Engraçado eu ler isso hoje. Logo hoje que acordei com uma saudade apertada dele.

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