sexta-feira, 13 de março de 2009

Palavras



Noutros tempos escrevia melhor. Corrijo-me! Noutros tempos escrevia mais. Sentia mais? Pensava menos? Que importa? As palavras já não carregam tão somente expressão do SENTIR. Agora levam-nas consigo a responsabilidade do TRANSMITIR.

Palavras a esmo carregadas de lágrimas, sorrisos e emoções eram postas no papel tão somente porque essa era sua única finalidade. Hoje, toma-me lado a lado com essa função a necessidade de torná-las – na maioria das vezes – bem escritas, ponderadas, sensatas, pontuadas.

As palavras – assim como o coração? – amadureceram. Trazem consigo a responsabilidade de transmitir aos que virão uma linguagem clara, coesa. Precisa mostrar ao futuro que no passado não existiam “vc” e sim você. Precisam mostrar que os naum, os tah, os eh, os tb e os xiau, na verdade são palavras inventadas – talvez pela pressa – por quem não quer de fato escrever. Se o quisessem escreveriam. Não inventariam.

Minhas palavras evoluíram. Minhas frases são mais bem feitas, melhor pensadas. Mas e o coração? Ah! Meu amigo Coração! Esse - por mais que eu teime em acreditar que sim – não amadureceu. Ainda é capaz de bater mais forte com um olhar, com um sorriso, com um recado que só os olhos pertencentes a esse coração podem ver. E ele ainda sente, ama, odeia e grita com a mesma intensidade que o fazia quando as palavras ainda não tinham passado à fase adulta e eram somente crianças - ou jovens – a engatinhar nas folhas de papel.

Talvez por isso que entre novos casais de enamorados, mesmo tendo eles sessenta, ouve-se tantas e tantas vezes: Sinto-me novamente como se tivesse dezesseis. O coração, seja ele qual for, nunca teve mais que isso. Parou no tempo. Não cresceu. Às vezes se fecha. É então que o julgamos amadurecido. Mas o erro - que muitos não se apercebem - é que, ao fecharmos o coração, trancamos com ele todas as emoções: amor, paixão, êxtase, contentamento, ansiedade, excitação. Melhor seria se, ao trancá-lo, lembrássemos de colocar para fora todas elas. Assim, quando o abrissem novamente não estariam agora alvoroçadas, em busca de nova vida. As emoções, quando postas em liberdade de longo cárcere, esquecem-se de obedecer – se é que um dia o souberam – e tomam por morada o coração – o único a quem conhece. É por isso que ele não amadurece. Ou está trancado ou está dominado.

Cabe então às palavras – que vivem a envelhecer – a função de apaziguar o alvoroço do tão querido amigo. São elas que lhe dão alento, conforto, sossego. São elas que lhe acalmam a ansiedade, que se lhe estabelece o ritmo cadenciado da batida compassada. É devido a esse envelhecimento das palavras que, com o passar do tempo, as frases saem melhor estruturadas, mais bem pontuadas, com menos ortografias e gramáticas a serem corrigidas. Mas se prestarmos bastante atenção, com olhos que temos para ver e os ouvidos que temos para ouvir, perceberemos que todas as palavras – as de antes e as de agora – trazem consigo somente as ordens do coração.

Quem amadurece então?

“Não sou dona do meu coração. É ele que o é de mim.”

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