terça-feira, 25 de setembro de 2007

A dor (21/09/07)







Acordei com aquela dor de novo. Já fazia algum tempo que eu a vinha sentindo, mas a cada dia que passava ela se tornava mais forte. Agora era uma dor aguda, que doía tanto, machucava tanto. Às vezes, a sensação que eu tenho é que se respirar um pouco mais forte não vou conseguir aguentar. Até para abrir os olhos, dói.

Levantei, aos prantos, pela dor dilacerante que invadia meu peito neste momento e caminhei até o banheiro. Abri o armário dos remédios e procurei. Peguei um por um de todos os que estavam ali, li todas as bulas.

Antipirético: para prevenção ou alívo da febre. Definitivamente, não era esse.
Analgésico: para tratamento da dor. Uns para dor de cabeça, outros para dor nos músculos. Na verdade, nenhum deles se encaixava.

A dor que eu sentia, naquele momento, era mais intensa. Mas, por via das dúvidas, tomei um daqueles analgésicos e fui me deitar, achando que isso resolveria. Que nada!!! Meu peito latejava, latejava e latejava tanto que meus olhos transbordavam. Tudo o que eu queria era chorar e chora sem parar. Talvez assim, a dor fosse embora.

Achei que ouvir uma boa música pudesse ao menos me relaxar, mas todas as músicas que eu ouvia faziam doer ainda mais. Então chorei e chorei até soluçar. No meio do soluço, pude perceber que agora, além da dilacerante dor no peito, sentia também uma enorme dor de cabeça. Acho que as lágrimas fazem isso com a gente.

Resolvi que era hora de levantar. Liguei para o meu médico e marquei uma consulta de urgência. Apesar de eu ter suplicado para a recepcionista por um horário mais cedo, só consegui que ele me atendesse as quatro da tarde. Até lá, iria continuar doendo. Cheguei ao consultório às três e meia. Eu não queria me atrasar. Queria que a dor fosse embora logo.

A recepcionista, uma menina loira de olhos azuis, devia ter no máximo 18 anos. Acho que ela também devia estar com alguma dor, porque nem ao menos sorriu quando disse que as consultas estavam atrasadas.

Duas horas e meia de espera na sala de espera, pareceram uma eternidade. Foi então que ouvi a voz do Dr. Cássio:

- Cristiane.

Era a minha vez!

Agora sim!!!! Agora eu estava mais tranquila. O Dr. Cássio me conhecia como ninguém, e, com certeza, teria uma solução para aquilo.

Lembrei-me da primeira vez em seu consultório. Eu estava tão assustada que segurava firmemente a mão da minha mãe. Achava que se a soltasse iria doer mais e aquele monstro que estava do outro lado da porta poderia me engolir. Exatamente como hoje, ele chamou por meu nome.

Quando entrei na sala, com os olhos marejados, pelo medo e pela dor, ele apenas sorriu para mim e me perguntou o que eu sentia.

Naquele sorriso eu vi que ele não era um monstro, afinal, monstro nenhum tinha olhos verdes e semblante tranquilo. Isso me acalmou e eu, nos meus singelos 4 anos, pude dizer a ele onde estava doendo. E ele, como um mágico saído de um conto de fadas tirou do armário azul que ficava atrás da sua mesa um frasco contendo um líquido laranja. Na tampa daquele vidro tinha até um copinho de plástico branco. Ele realmente era um mago e tanto!

Então, o Dr. Cassio derramou aquela poção alaranja no copinho branco e deu na minha boca. Disse que se eu tomasse aquela poção mágica duas vezes ao dia, no dia seguinte eu já não teria mais nenhuma dor. Ele não mentiu.

Por isso, que ao ouvir meu nome, senti um imenso alívio. Sabia que tudo ia ficar bem.

Entrei na sala do mágico que sempre teve o poder de fazer todas as minhas dores desaparecerem. Com o mesmo sorriso seguro de tantos anos atrás, ele me perguntou o que eu sentia.

Eu comecei a contar, e no meio do meu discurso, comecei a chorar. Contei exatamente como era aquela sensação. Disse para ele que a dor era tanta que eu não queria falar, não queria abrir os olhos, não queria respirar. Queria poder fechar meus olhos e simplesmente deixar de viver.

Ele ouviu tudo atentamente. Prestava tanta atenção a tudo que eu dizia que nem por um momento ele pegou a caneta para escrever nada na minha ficha. Isso me assustou. Eu sabia que era algo sério. A expressão dele era totalmente diferente de todas as outras vezes.

Quando eu terminei, ele não se virou. Dessa vez, ele não foi até o armário azul. Dessa vez ele não me trouxe nenhum vidro com líquido laranja. Ele apenas me olhou e disse:
- Cris, dessa vez eu não posso te ajudar. O que você tem, neste momento, é amor e isso não tem cura. Com todos os avanços da medicina, com todos os gênios que temos no mundo, até hoje não houve ninguém que pudesse inventar algum remédio para a dor do coração.
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Um comentário:

  1. bem poderia acontecer da dor ir se esvaindo, conforme a transpomos para o papel, ficando apenas ali gravada, como uma lembrança de algo que já passou...

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