terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Olhares sobre mim

Eu não sei como nem porque começou. Sei que está levando mais tempo do que eu gostaria. As pessoas me culpam pelo meu estado. E a verdade é que eu me culpo pelo meu estado. Seria legal tomar uma pílula mágica e fazer tudo passar. Mas não existe pílula mágica. A pílula que serve para você não serve para mim. E a pílula que serve para mim não é mágica. Não faz milagre. Leva tempo. Um tempo que talvez eu não tenha. 

Pode até parecer, mas eu não me faço de vítima, não fico procurando motivos para ser triste, não fico olhando para o cinza de propósito. É só que eu não sei aonde está o arco-íris. E queria saber. Do fundo do meu coração eu quero vê-lo de novo. Quero ouvir cores, quero sentir vontade de dançar, quero cantar. Esta sou eu. E não este espectro de mim no qual me transformei - temporariamente, espero. 

É injusto. O certo seria ir ao médico e ele dizer: - olha você tem depressão, toma este remédio e estará curada em três semanas. Já se passaram mais de três semanas e eu continuo fazendo mal para aqueles que eu amo. Eu continuo magoando as pessoas e continuo me magoando. Continuo destriuindo relações que demoraram anos para serem conquistadas. E ninguém - nem eu - sabe o que fazer. 

Hoje de manhã vi o sol. Me arrancou sorrisos e uma sensação de paz que eu desejo que dure todo o dia. Um dia de cada vez. Depois de arrumar a casa vou pegar meu livro e vou sentar na praça. E vou ler meu livro - repetido - estou sem livros novos. E vou ficar ali pelo tempo que me for permitido. 

Porque hoje é o que eu posso fazer por mim e por aqueles que eu amo. 

Ah! E antes que você me pergunte, eu não estou querendo me justificar, me vitimizar, me fazer de coitada. Só resolvi conversar com alguém que talvez entenda o que eu estou pensando. Ou melhor, com alguém que me ajude a entender - eu mesma! E não me culpe por isto. Já me sinto culpada o bastante por Estar aqui. 


Tive depressão. E sinceramente até acho que demorou muito mais tempo porque ninguém que eu conheça sabe tratar comigo. As pessoas ao meu redor me amam, mas vivem me acusando de usar a depressão como motivo para tudo. A depressão não é um motivo. É o diagnóstico.  E eles não sabem como lidar com ela. E se querem saber a verdade? Eu também não sei. Se soubesse acho que tudo seria mais fácil, para mim e para os outros. Mas depressão, assim como muitas coisas desta vida, não vem com manual de instrução. É bem que seria bom!



Quando me vi em depressão é que me dei conta da minha solidão. Não da solidão física, que está eu não tenho nem um pouco. Mas da solidão psicológica. Amo meu marido e meus filhos mas não posso falar com eles sobre o que sinto, afinal depressão é sinal de fraqueza e eu nasci para ser forte forte. E todos- inclusive eu mesma - esperam que eu seja forte o tempo todo. Não posso conversar sobre minhas tristezas porque eu não tenho motivo para ser triste. Estou na Itália, tenho trabalho, uma casa, uma família, filhos maravilhosos. Não tenho motivo para ter depressão. 


Não posso conversar sobre outras coisas porque são besteiras ou coisas que já estão resolvidas. Não posso falar dos planos da minha viagem com a Luana porque ISTO EU RESOLVO. Não posso falar que me vi querendo ter mais um filho. Porque eu não posso e pronto. Não tenho útero. E já que eu não posso, para que pensar nisso? Mas eu pensei e me abalou. Mas eu já entendi e já passou. 

Compramos nosso primeiro apartamento. Sim! É motivo de festa! E eu estou feliz por isto. Afinal veio muito mais cedo do que imaginávamos em uma região privilegiada. Mas o apartamento não é como eu desejei. Eu queria um apartamento com quartos maiores e uma cozinha melhor estruturada. 

Eu queria um banheiro sem banheira e não gostaria de ter que passar de novo o problema que tivemos no primeiro apartamento que moramos aqui na Itália de que não tínhamos água quente 100% do tempo para tomarmos banho. 


Ainda me lembro da primeira sensação de banho que tomei no apartamento da Piazzale Michelangelo. Foi o melhor banho que tomei na Itália. Eu me sentia em um paraíso. Em um outro mundo. Como se estivesse sempre davanti à vista de um lago tranquilo. E perdi isto. E não existe a mais remota possibilidade de ter aquilo de novo. Não antes de trocarmos o Boiler por um sistema diferentede aquecimento de água. Até lá tenho que tomar banho com um olho no termômetro. 

Eu estou 100% feliz porque o apartamento é meu. Mas eu queria uma cozinha melhor estruturada, um quarto das crianças maior, um quarto arrumado - ver roupas fora de onde deviam estar me fazem mal- eu sou visual. E visualmente minhas coisas tem que estar no lugar. Não estão. Embora esteja arrumadas, mesmo que no lugar errado. E essas outras coisas não me agradam. 

E embora eu tenha que aprender a viver com elas, leva tempo. Mas eu não tenho este tempo porque tenho que estar feliz AGORA. 

Eu amo cozinhar. Mas preciso de uma cozinha estruturada para cozinhar com prazer. Ainda me faltam 3 ou 4 coisinhas que me permitirão reaver a alegria de cozinhar. Aliás, uma delas meu maridinho arrumou hoje para mim. Uma mesinha na cozinha para facilitar o trabalho.



Amo o meu marido. 
Amo meus filhos. 
Amo minha família. 



Sei que, como eu mesmo digo, devo olhar as coisas boas da vida e olhar para elas com mais afinco.

Sinto falta de poder conversar sobre qualquer coisa sem motivo e jogar conversa fora. Sinto falta de conversar sobre um plano e levá-lo adiante colhendo informações e sugestões. Me faz falta dividir opiniões mesmo que no final eu já saiba o que vou fazer. 

Mas acho que essas são coisas que vem com o tempo. E tempo é tudo o que tenho. 

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