Tem dias que tudo fica confuso, dentro e fora da gente. Devemos ser - mas nao somos - fortes o tempo todo. E as vezes caimos.
Ultimamente isto tem acontecido com mais frequencia do que gostaria. Acho que o fato de ter uma vida completamente diferente da que sonhei contribui - e muito - para isso.
Sim! Eu amo meus filhos. Amo estar com eles e fazer parte das suas vidas, do seu dia a dia, das suas duvidas, alegrias, tristezas. Mas em contrapartida, nunca sonhei em ser dona de casa e isso mexe comigo muito mais do que deveria.
Desde pequena, ainda nas brincadeiras de criança, eu era "a moça do escritorio", " a mulher do banco", a "dona da vendinha". Nunca fui "A dona de casa". Cedo comecei a trabalhar, a ver o meu dinheiro entrando, a me chatear com transito e chefe e planilhas e projetos e prazos e realizaçoes.
De repente me vejo entre quatro paredes sem contato com o mundo. Nada de diferente acontece no meu dia. Nao brigo no transito, nao vejo gente legal, nao convivo com gente chata, nao tenho desafios, nao tenho novos projetos, nao tenho projetos atrasados, nao tenho encheçao de saco de chefe. Nao carrego caixas, nao lido com cliente, nao faço hora extra. Tudo isso pode até parecer ruim, mas ainda assim sao coisas diferentes que acontecem no dia a dia de um ser humano. Afinal, até quando a novidade é ruim, ainda assim é uma novidade.
Quando meu marido me liga no meio do dia e pergunta: - O que està fazendo? - aparece um ponto de interrogaçao gigante na minha cabeça: ?????? Como assim o que estou fazendo? O de sempre! Varrendo, passando pano de chao, tirando po, cozinhando, limpando tapete, lavando louça, limpando banheiro, fazendo o almoço, limpando a cozinha, arrumando a sala, guardando brinquedos. O ponto alto do meu dia é quando passa algum episodio novo de A foresta dei sogni ou de Babbar e as aventuras de Badoo. E isso é tudo o que tenho para dizer. Mas nao digo. Na maioria das vezes, invento. Até mesmo quando ele chega a noite e pergunta: - Como foi seu dia? - eu nao sei o que responder. Nao tenho o que responder. Nao tenho nada de diferente para contar. A resposta certa seria: - igualzinho ao de ontem - Tudo é tao igual, sempre tudo tao igual. Mas o que sai dos meus labios é - bom, e o seu?
Nem tenho mais sobre o que falar. Nao tenho mais assuntos diferentes. A minha esperança é encontrar alguma noticia bombastica na internet, algo que seja interessante para que eu possa compartilhar com ele. E rezar para que ele se interesse pelo assunto e escute e nao somente finja escutar como muitas vezes aconteceu. E nao posso culpà-lo. Como disse: - o que de interessante acontece do lado de cà? NADA.
Dependo dele - e do dinheiro dele - para comprar um sapato, uma roupa, um casaco - pelo qual estou apaixonada ha 2 meses - para tingir meu cabelo, para sair com meus filhos, para ir ao cinema, para comprar um sorvete. Ainda bem que nao menstruo mais, senao até para o meu absorvente eu dependeria dele para comprar.
Claro que isso nao é nenhum bicho de sete cabeças para quem optou por essa vida. Mas para mim, nao sair, nao conviver, nao interagir, nao ter o meu dinheiro no final do mes para poder ao menos comprar uma camiseta para os meus filhos sem depender do aval de ninguem é extremamente dificil. E esta é uma liçao que està dificil de aprender, exatamente como matematica. A gente até sabe que tem que resolver aquela equaçao complicada, mas os numeros nao entram na nossa cabeça de forma facil e agil e as vezes dà até dor de cabeça, sensaçao de impotencia, de inutil. Para mim, lidar com as privaçoes de dinheiro, de companhia, de amigos, de movimento e mudanças nao é coisa natural. Se apresentam como a tal equaçao dificil de resolver.
Por outro lado tem muitas coisas que amo no meu dia e a maior delas é estar com meus filhos o tempo todo. E sao essas pequenas coisas que me dao forças. Encontro alegria até nas pequenas coisas da vida. Em um pequeno sorriso, em um floco de neve, em uma chuva perfeita. Nao sou uma pessoa depressiva, mas sim, as vezes eu caio. E nem sempre consigo levantar sozinha.
Mas aprendi que existem pessoas que nos seguram, que nos levantam. Outras passam, olham, pisam em cima e as vezes passam sobre nòs como um rolo compressor. Por isso aprendi que é fundamental levantar cedo, colocar uma daquelas mascaras de carnaval com um sorriso bem.
Entao a partir de hoje, coloco minha mascara, dou meu sorriso mais largo e fingirei sempre que tudo esta bem, mesmo quando aqui dentro estiver tudo desmoronando.
Porque, para algumas pessoas, ser forte nao é uma opçao, é uma obrigaçao.
Me identifico muito com o que vc escreveu e o que eu mais sinto falta da época que eu trabalhava era poder ir ao salão semanalmente e o almoço com as colegas do trabalho.
ResponderExcluirEssa é uma fase que passa, eu te garanto, as vezes lutamos a nos acostumar com certas escolhas que nós mesmos fazemos, mas o ser humano se adapta! Pode ter certeza.
Caraca! Me identifiquei muito. Só não tenho muito grilo com o dinheiro pq sempre foi muito difícil arrancar um centavo da minha mãe e hoje, meu marido me dá tanta liberdade para gastar... até pq eu não sou de rasgar dinheiro por aí. *risos* Mas enfim, nunca me sustentei e fica mais fácil não sentir falta daquilo que a gente não conhece, né.
ResponderExcluirFora isso, tudo, tudo, igualzinho, igualzinho. Até o lance de sentir falta das chatices do trabalho, pq, apesar deu nunca ter me sustentado, já trabalhei fora por muito tempo, ganhando quase nada ou nada mesmo, estagiária, voluntária... faz falta, mas troco passar o dia todo com minha filha por trabalho nenhum no mundo.
Ela tá entrando na escolinha. Quem sabe consigo alguma ocupação que me renda uma graninha? :)