quinta-feira, 2 de abril de 2009

Para o meu pai


Ontem, estava revirando o passado, lendo meu diário de 98. E encontrei a sua letra lá. Você já não falava, então tudo o que te restava era escrever. Até isso temos em comum.

"Fale para os meninos ajudarem na remoção"
"Vou tomar banho em casa"
"Médico, me dar alta"
"Fale pro Junior que quero limonada"
"Quero fanta"

Talvez essas tenham sido as suas últimas palavras. Foram, com certeza, as últimas para mim. Foi exatamente naquele dia, em que você estava melhor, que eu vi que tinha os olhos azuis mais lindos que eu já tinha visto no mundo - fazia alguns dias que você não abria os olhos. Mas os abriu naquele dia - E nunca mais vi outros azuis tão azuis quanto os seus. E também nunca mais vi seus olhos de novo.

Eu sempre penso em você, é verdade. E você sabe disso. Mas eu não fazia idéia do quanto ainda tinha de você em mim. Sinto a sua falta todos os dias, em todas as minhas conquistas, em todos os meus medos, em todas as minhas alegrias e em todas as tristezas também.

Às vezes sinto vontade de chorar no seu colo. Deitar minha cabeça na tua perna - ou na tua barriga - e ouvir você cantar "a mulher dos cabelos brancos". Sinto falta do seu assobio que chamava a gente. Às vezes, escuto uns parecidos e olho. Ainda acho que pode ser você.

Às vezes só quero chorar embalada no teu colo. Às vezes só quero ser de novo tua menina naquele tempo em que eu era só tua e você era quase todo só meu.

Queria ter alguém para conversar. Alguém que tivesse o jeito jeito de falar bonito, a tua fluência verbal e o teu conhecimento sobre todas as coisas. Nunca mais encontrei ninguém tão completo.

Queria ouvir de novo as histórias de extra-terrestre, de discos voadores, de homens que vão à lua, de homens que descobrem coisas. Queria ouvir de novo a história do cachorrinho, da primeira televisão, dos bailinhos, das filas para pegar comida durante a segunda Guerra Mundial.

Às vezes quero ouvir você gargalhar, ouvir você chorar, te abraçar.

E eu me lembro que eu não chorei quando você se foi. Eu chorei, na verdade, no dia que virei a rua e não vi tua cadeira branca de marfinite no portão da casa. Eu chorei quando não te vi de bermuda, sem camisa, iate branco e gorro vindo na minha direção para me encontrar. Foi só neste dia que eu entendi realmente que você tinha ido embora. Porque foi a primeira vez que você não estava me esperando.

E senti tanta falta de você depois disso. Em tantas vezes.

Mas ontem, não senti falta. Não senti nada disso. Senti você dentro de mim. Inteiro. Pleno. Perfeito. Completo. E tinha tanto de você em mim que tive que pôr para fora. Tive que chorar e deixar sair um pouco. Não cabia tanto de nós no mesmo lugar. E eu não me lembro de quando foi a última vez que chorei tanto por você. Já faz 11 anos desde que você foi viajar - pensar assim conforta meu coração. Sei que um dia vamos nos reencontrar. Talvez quando chegar o dia da minha viagem. Ou quando você voltar.

Até lá, vou continuar a sentir sua falta de vez em quando.
Eu te amo com todas as forças que há em mim. E esse, é aquele tipo de amor que não acaba nunca.

...Agora está tão longe
Vê, a linha do horizonte me distrai:
Dos nossos planos é que tenho mais saudade,
Quando olhávamos juntos na mesma direção.
Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim?
Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você está comigo o tempo todo.
Quando vejo o mar
Existe algo que diz:
- A vida continua e se entregar é uma bobagem.
Já que você não está aqui
O que posso fazer é cuidar de mim."

3 comentários:

  1. Que lindo Chris...onde estiver está cuidando de vc com certeza...bjs!!!

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  2. Menina...
    É feio me fazer chorar no escritório!!!! rs...
    Dizer o quê? Acho que você já sabe...
    Beijos!!!

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  3. Lindo e sincero como o amor que sinto pelo meu pai e com certeza como me sentirei quando ele se for.
    Fique com Deus.

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