domingo, 6 de outubro de 2019

Estar sempre dividida é um fardo

Eu gosto de pessoas. 
Gosto de estar rodeada de pessoas que amo. 
Gosto da casa cheia, de risadas altas, de bagunça, de zoeira..

Amo sair e viajar. 
Conhecer lugares novos, pessoas novas, costumes diferentes. 

Mas amo ficar sozinha. 
E por ficar sozinha, entendo sozinha mesmo, sem ninguem me interrompendo. 

Percebi isto no mes passado. 

Maridao e filho mais novo viajaram para o Brasil e a filha do meio foi para a casa do namorado. O que me deixou com 2 dias livres para mim. 

E foi ai que percebi que ha muitos anos nao tenho um tempo so para mim. 

Todo mundo se permite ter um tempo so para si -  de sair para correr, de fazer exercicio, de assistir serie - em qualquer momento do dia. As pessoas tem hobby, tem vontades, tem atividades exclusivas. 

Eu nao. Por que? Por culpa minha eu acho. 

Aqui em casa, se estou assistindo serie, alguem entra no quarto e pergunta o que estou fazendo. 
Se estou assistindo um filme me interrompem querendo saber o que fazer de janta
Se estou lendo, ficam falando do lado, interrompendo a cada 2 paginas da leitura. 

Tanto é que nem leio mais. E sinto falta disto. 

Sinto falta de ficar sozinha, em silencio comigo mesma. Sinto falta da solidao. 

Acho que acostumei as pessoas ao meu redor de uma maneira muito errada e hoje eles nao conseguem me ver como uma pessoa que tem necessidades tambem. 

Ano passado eu conseguia me isolar com as minhas caminhadas. Ouvir a minha musica, pensar em voz alta, fazer o que eu queria. Mas este ano voltei a ser preguiçosa e no meio desta preguiça toda, ainda torci o tornozelo. Resultado: a unica hora do dia que eu tinha para mim mesma nao tenho mais. 

Sou aquela que esta sempre respondendo email, respondendo whatsapp. Quando nao estou fazendo isto, estou fora, ou estou fazendo liçao com o pequeno, ou jogando video game. E se pego um momento para mim - daquele que eu imagino que seria so para mim - sou sempre interrompida. 

Eu consigo fazer as coisas que devo fazer sozinha. As pessoas ao meu redor nao. Eles inventam ou fazem o que querem, e estao sempre me envolvendo nas atividades deles. Seja ela qual for. 

E muitas vezes eles percebem a gafe e voltam atras com - ah nao, deixa que eu faço, deixa que eu resolvo, eu jogo sozinho, etc. 

Mas ai ja acabou com o "meu momento". Aquele que deveria ser um momento meu, ja passou a nao ser. E vale para tudo. Até mesmo para momentos que nao sao so meus. Se estou cozinhando vem o pequeno e reclama porque nao fui jogar video-game. Se estou jogando video-game, geralmente tem outra exigencia pela casa.  

Cansa nao poder estar 100% em lugar nenhum. Irrita nao poder se dedicar 100% a tarefa nenhuma, seja ela prazerosa ou nao. 

Mas isto nao vai mudar. Entao, para viver melhor, devo me comprometer comigo mesma a nao me importar. Simplesmente entender que as necessidades dos outros sao mais importantes que as minhas. Que o momento do outro é mais importante que o meu. E simplesmente relevar. Ou morrer se estressando e se irritando por coisas que nao deixaram jamais de serem como sao. 

Estar sempre dividida é um fardo. Mas devo aprender a conviver com isto. 

domingo, 25 de agosto de 2019

Olá Sr. Armando




Onde você está? 
Como você está?

Hoje assisti O Rei Leão. E me lembrei tanto de você.
Me lembrei de você falando do andar do Mufasa, do nascer do sol. 

Os grandes Reis estão sempre olhando por nós, exatamente como imagino que você esteja também. 

Como Mufasa vive dentro do Simba, você vive dentro de mim. 

O ciclo da vida continua. E eu tento ensinar para os meus filhos as coisas que você me ensinou. Tento deixar para eles meu legado, como você deixou o seu. Tento deixar lembranças como as que você me deixou. 

Hoje te senti presente, me senti perto de ti. Senti meu coração batendo do mesmo modo de quando eu era criança. 

Não me lembro de você todos os dias, mas todos os dias que me lembro a lembrança é tão intensa que chega a doer. 

Te amo pai.
Onde quer que você esteja. 
E vou te amar sempre. Até bem depois da última batida do meu coração. 


E se eu puder fazer um pedido, me espere. Quero sentir de novo teu abraço, tua barba por fazer, tua gargalhada despretensiosa e aquele assobio que era só teu. 

domingo, 12 de maio de 2019

Intensa

E inconstante - devo admitir. 
Existem períodos em minha vida que as palavras simplesmente afloram em minha mente e me vejo tão plena, tão confusamente cheia delas que começo a jogá-las em papel - ou na tela de um computador. 

Antigamente escrevia. Com papel e caneta, muitas vezes lápis, que eu tinha sempre ao alcance da mão. Hoje em dia nem sei onde estão. O note tomou seu lugar. Mas não que tenha tornado a minha tarefa de escrever menos difícil, ou menos confusa. 

As vezes tenho períodos de inspiração. Acordo cheia de frases com as quais devo trabalhar para transformá-las em texto. E ao adormecer me brotam idéias que devo fazer florescer. 

Uma pena que estes picos de escritora se intercalam com uma preguiça incansável de pensar, de elaborar, de trabalhar com palavras. E às vezes me calo. Não falo, não escrevo. E aqui dentro tudo se transforma em silêncio. O turbilhão de idéias e palavras dão lugar à esta falta de som ensurdedora dentro de mim. 

E me pego pensando... o que eu vou fazer se eu nao tiver mais vontade de falar? 

A felicidade é relativa

Acho que essa tal felicidade não existe. 
Sabe aquela coisa plena, pura e que te faz bem o tempo todo? Não é deste mundo, como disse Jesus Cristo. 

O que existe são momentos felizes. E à medida que è passamos mais momentos felizes que aborrecedores, temos a impressão de que somos e seremos "Felizes para Sempre", como nos contos de fada. (Aliás, contos infantis não deveriam terminar com esta frase). 

Ninguém se casa e é feliz para sempre.
Ou beija o sapo, ele se transforma em um príncipe e vive feliz para sempre. 
Ou é salva do dragão que guarda a torre do castelo e vive feliz para sempre. 
Ou arranja o emprego dos sonhos e é feliz para sempre. 

O feliz para sempre não existe. 

E esta busca incessante do "ser feliz para sempre" muitas vezes cansa, machuca.

Eu sempre saí bastante. Raramente passava finais de semana inteiros em casa. As vezes saía a noite para dançar. E de dia, eu e as crianças íamos a parques, piscina, shopping, Playcenter, Hopi Hari, praia, etc. E eu gostava disto. Recarregava as minhas energias para a semana que estava por vir. Como já disse, tenho a alma voadora.

Mas ultimamente isto tem se tornado cada vez mais raro. Certo! A responsabilidade disto é minha. Se voar me faz feliz, por que nao voar? Tenho me sentido enjaulada, como um pássaro na gaiola. Que, quando sai da gaiola é sempre para estar, no máximo, na gaiola ao lado. 

Talvez eu tenha envelhecido e tenha ficado com preguiça de ser o que eu sou, nao sei. Sinto falta de algumas coisas que eu nem mesmo sei o que sao. So sinto falta. Vontade de sair sem destino. Vontade de passar um dia inteiro sem fazer nada, debaixo do sol. Vontade de a um parque. Vontade de dançar. Mas nao faço nada disto. E porque tenho preguiça. PreguiçA de ser quem sou. 

Quem sou esta sendo cansativo demais e gasta muita energia e nao me deixa ser a pessoa que eu quero ser. 

Cris Faga
De todas as malas que já desfiz, as que mais me doeram foram aquelas das viagens que nem cheguei a fazer.

Penso nisso algumas vezes por semana. Do meu gosto por viagens, do que eu realmente queria para mim. 

Algumas pessoas querem carros, casas, conta bancaria. Eu queria um passaporte cheio de carimbos e um album enorme de fotos de todos os lugares. 

Dia desses vi um post de um conhecido onde ele dizia que era o 50 pais que ele conhecia. Sabe, eu vejo bastante posts por ai. Vejo gente postando fotos de uma vida feliz, dos bens adquiridos, da roupa nova, do restaurante caro e nada disso me atrai. Mas do Alex... mamma mia... as fotos deles me levam a loucura. 

Talvez algum dia eu possa colocar meu pe na estrada com a mesma frequencia que ele - ou talvez nao. Nao acho que chegarei a conhecer 50 paises... mas eu tenho a certeza de que cada lugar diferente que vou eu trago comigo a lembrança linda de um lugar novo, de uma cultura nova e a sensaçao de liberdade que so um viajante sabe como é. 

Cris Faga

Arrependimento

As vezes me pego olhando para trás e não tenho a certeza se fiz tudo o que podia ter feito para ser feliz, ou ter sucesso, ou dinheiro...

Eu fazia comerciais de TV e de um dia para outro parei. Por capricho, por achar que meu pai so gostava de mim porque eu fazia comerciais, porque eu queria ser criança - neste meio voce perde um pouco a infancia. Ao inves de brincar na rua eu passava os dias em filas enormes para fazer testes para comerciais - e por tantos outros motivos. 

Um dia, muito depois de ter parado, eu acordei e pensei: - Por que foi mesmo que eu parei? 

Eu fazia faculdade. E nao terminei o meu curso. Porque nao tinha dinheiro ja que quando comecei eu ja era mae e nem tempo porque - de novo - quando eu comecei ja era mae e achava que passava tempo demais longe de casa e das crianças. 

Eu tive uma agencia de turismo que faliu. E eu nunca soube se foi realmente por causa da crise ou se eu nao me esforcei o suficiente. 

Dinheiro nao é a coisa mais importante do mundo para mim. Nunca foi. Nunca tive a pretensao de ser enormemente rica. Mas sim, eu queria poder colocar a cabeça no travesseiro e nao me preocupar com as contas para pagar, em economizar para a viagem, em programar o final de semana, etc. 

Queria poder olhar para tras e ver que, mesmo sem dinheiro , eu realizei algo importante. Sou lembrada por alguma coisa realmente importante que eu fiz... 

E, exatamente neste momento, enquanto escrevi as palavras acima é que me dei conta de que realizei algo importante sim. Sou mae. Sou mae de tres criaturas incriveis, cada qual com suas caracteristicas e defeitos e qualidades e carater. Sao seres humanos incriveis, incapazes de prejudicar o outro, com um senso de justica, com um bom carater. 

Embora ainda sinta que alguma coisa eu deixei de fazer, eu sei que fiz o mais importante. 

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Enfim, limpa

Enfim, se passaram 5 anos.

Se passaram 5 anos desde que fui diagnosticada com depressao. Foi uma època muito dura e dificil para mim e para todos os que estavam ao meu lado. Eu chorava, ficava irritada, nervosa, triste, tudo no mesmo dia. 

Tinha dias que nao queria nem levantar da cama e em outros que pensei em matar a humanidade inteira. Deixei de acreditar no ser humano e - o pior - deixei de acreditar em mmim. 

Na época me receitaram 3 remèdios diferentes que fui eliminando aos poucos. 

Dois deles me deixavam muito zonza, com sono o dia todo. Mas o outro tomei durante quase 5 anos. 

Desde setembro/2018 estou em processo de desmame do remedio, que tomava 1 de manha e outro a noite. Para ser sincera, nao conseguia dormir sem tomar o bendito (ou maldito). Quando fui para Londres e roubaram a minha bolsa, o remedio estava dentro, e eu passei exatas 4 noites sem conseguir dormir. Foi muito dificil, e quando cheguei me senti aliviada por poder voltar a rotina. 

Nestes dias sem o remedio tive insonia, ataque de panico, disturbio bipolar. E foram so 5 dias. 

Em setembro comecei a diminuir as doses, passando para metade de manha e 1 a noite, metade de manha metade a noite, e so metade a noite. 

A metade da noite foi mais demorada para tirar, porque eu realmente tinha medo das consequencias. 

So faz 1 semana que estou sem. Nao estou tendo ainda noites bem dormidas, mas nem de longe se aproximam àquelas que tive no periodo em Londres. E aos poucos o meu sono esta voltando ao normal. 

No final das contas, depois de outros exames e visitas em outros terapeutas ficou claro que nao tenho - e provavelmente nunca tive - depressao. Sou sim, extremamente ansiosa - o que é igualmente ruim. E que provavelmente, por conta da minha ansiedade, tive crises depressivas. Mas o diagnostico é diferente do que me deram da primeira vez. 

E eu estou feliz e orgulhosa de mim mesma pois sei que tenho todas as ferramentas para enfrentar tudo de cabeça erguida. 

Parabens para mim.  

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