segunda-feira, 17 de março de 2014

Ser ou nao ser (mae), eis a questao.

Plagiando nada menos que Sheakespeare (To be, or not to be, that is the question) começo a análise de hoje.

Talvez porque as redes sociais invadiram nosso mundo real que me dou conta de coisas que antes nem pensava.

Vejo frases por todos os lados dizendo sobre as maravilhas da maternidade. Que uma mulher so se sente completa depois de ter um filho. Ou, ser mãe è a melhor maravilha do mundo. E a pior delas: - Toda mulher deveria ser mãe. Esta é a imagem vendida, desde os tempos das nossas bisavós que afirmavam que "a mulher só é feliz depois de dar a luz". Aí como existem tantos órfãos no mundo, a sociedade mudou um pouco a frase para: - "A mulher só é feliz depois de ser mãe".

Estas coisas me fizeram pensar e analisar. Por que alguém quer ser mãe - ou pai?

Nunca ouvi ninguém dizer que escolheu esta vida porque entrou em um ônibus e viu um menino catarrento, lá pelos 5 anos dar um tapa na cara da mãe.

Ou talvez escolha a maternidade ao ver o adolescente da vizinha xingando os pais, indo mal na escola e usando drogas.

Nunca ouvi ninguem dizer: - quero ter filhos para eles escolherem viver em um outro país, longe de mim. Sim, isso acontece. Veja só minha mae. Duas filhas morando a milhares de quilômetros de distancia. E eu aposto que quando ela pensou em ser mãe ela achou que a gente sempre estaria por perto.

Quem é que diz :- Eu quero ser pai porque quero ajudar meus filhos a enfrentarem os problemas da vida, de desemprego, de falta de grana, de falta de companheiros?

Sim, meus amigos, estas coisas fazem parte da maternidade / paternidade. Não todas juntas, graças a Deus, mas fazem.

Sei que voces podem dizer - ah! mas aí é problema de criação. Outra novidade para vocês: - Nem sempre. Já pararam para pensar em famílias que tem crianças tão diferentes entre si. Porque em uma família tem um filho que usa drogas e outros não? Ou porque um se dá bem na vida, trabalha, enquanto o outro so quer saber de "vida boa"?

Pois é. Entao, nem sempre é problema de criaçao / educaçao. Claro, que isto ajuda. Mas nem sempre è o ponto X da questão. Na minha família, por exemplo, um dos meus irmãos foi usuário de drogas. A tal ponto que hoje não faz mais parte do nosso convívio. Deus o chamou mais cedo e, sinceramente, acho que foi o melhor para ele. Então? Meus pais educaram ele diferente do que aos outros três?

Só que estas coisas ninguém conta. A sociedade não nos prepara para isto. A imagem de maternidade é a de uma mãe linda e feliz embalando  e amamentando calmamente o seu bebê. Exatamente assim.   

Claro que esta fase existe e é perfeita - ou quase. Só que ela é passageira. E intercala com várias outras não tao amáveis.

Esta história de que toda mulher deveria ser mãe é balela. E nãoéè que penso que nem toda mulher não deve ter. So que hoje em dia se vende esta imagem como a de felicidade suprema. E por conta disto vejo mulheres cada vez mais tristes, sem vontade de viver porque não podem ou nao conseguem engravidar. Vejo casais gastando fortunas em clinicas de fertilização, outros minando a relação por conta das frustrações de não se conseguir engravidar porque o modelo de felicidade ideal envolve uma criança.

Vejam bem! Eu sou mãe. E também, como muitas outras mulheres, jáquis muiiito ter um filho. Já achei que se eu não os tivesse, jamais me sentiria completa. E hoje vejo que eu estava errada. Não me entendam mal. Eu sou extremamente feliz no papel de mãe. Amo meus filhos inteira e absurdamente. 

Sim, depois que eles nascem passam a fazer parte de nós e não importa o que eles façam vamos continuar amando-os com a mesma intensidade de sempre. Eles farão parte do seu mundo, da sua vida, dos seus pensamentos. E hoje eu não me imagino sem eles - nenhum deles. Mas a verdade é que ninguém nunca me preparou para o que estava por vir.

Fiz cursinho de gestante aprendendo como cuidar de um bebê. Mas parou por aí. Não encontrei nenhum cursinho que me ensinasse a lidar com uma criança em idade escolar. Não recebi aulas de reforço para me lembrar das lições esquecidas e ajudar meus filhos com as tarefas de casa. Não me ensinaram a lidar com as rebeldias de adolescentes. E olha que os meus nem são tão rebeldes assim. Vejo constantemente outros piores. E penso sem culpa nenhuma: - Se eu não fosse mãe e visse este tipo de comportamente, certamente desistiria da ideia.

E sabe de onde veio esta minha certeza? Porque se eu perguntar para qualquer um: - Por que voce quer ser mãe / pai, ninguém - ABSOLUTAMENTE NINGUÉM - vai me responder que é para poder cuidar de um adolescente problemático - sim, 80% deles são problemáticos em menor ou maior grau. Se você em casa tem um que faz parte dos outros 20% sinta-se extremamente afortunada. 

E me baseio nas estatísticas de adoção. 90% dos casais nas filas de adoção querem uma criança até 3 anos.  8 % ACEITARIA uma criança de até 10. Somente 2% estão dispostos a adotar um adolescente cheio de vícios e manias, personalidade formada e tals. Isto porque a imagem de maternidade que se vende não é a de pais de adolescentes. A imagem verdadeira vendida por ai é :para voce ser feliz e se sentir uma mulher de verdade, voce TEM que ter um bebê.

Então, antes de sair por ai perguntando: - E aí? Quando è que vocês vao ter um bebê?
Ou - Quando é você vai ser mãe. Ou soltar frases do tipo: - Só quem é mae conhece a verdadeira felicidade - pense bem se você não està - como tantas outras pessoas por ai - vendendo a imagem distorcida.

É claro que é maravilhoso. É claro que você vai amá-lo. É claro que você não desistiria dele. E repito: eu não estou fazendo apologia para "você nao ter filhos". Nada disso, viu?

A minha opiniao é que só não devemos vender a imagem de mãe como imagem de felicidade completa. E ensinar para nossos filhos e filhas que com a maternidade/paternidade vem muitas responsabilidades. E que assim como escolher qual profissão voce vai exercer, em que país voce vai morar, ter filhos também deve ser uma opçao - e nao uma obrigaçao - para ser feliz. 

Uma mulher passa a ser imensamente feliz quando vira mãe. Mas é bom que se descubra que também dá para ser feliz se escolher não ser. E não tem absolutamente nada de errado nisto.

E se você optar por tê-los saiba que passará dias muito difíceis. Mas no final, tudo valerá a pena. 

 



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