terça-feira, 29 de julho de 2014

Viajar....



Viajar, 
para muitos, um luxo. Para mim, uma necessidade. 

E me dei conta disto muito cedo, quando ainda não tinha absolutamente nenhuma condição para isto. Sonhava em conhecer outros mundos, outras culturas. 

A primeira grande viagem da qual me lembro foi para Praia Grande, no litoral paulista. Para alguns, nenhum glamour. Para mim, que tinha 16 anos e uma vida cercada pelas paredes da casa que mal conseguiamos pagar o aluguel, um sonho realizado. Me lembro desta viagem com uma riqueza de detalhes que chega a ser assustador. Näo me lembro direito das coisas que comprei naquele ano - nem mesmo se comprei. Não me lembro dos acontecimentos na escola, mas cada detalhe daquela viagem ainda estao frescos em minha memória. 

Com o tempo percebi que sou daquelas que trocaria qualquer bem material por um bom pé na estrada. Mochilas nas costas ou hotel de luxo, tanto faz, contanto que seja em algum lugar novo. 


Li hoje um texto que fala que viajar nos rende muito mais feliz que comprar um bem novo. E é verdade! Das minhas aquisições atuais, as mais valiosas são minha lavadora de roupas e minha lavadora de louças, que rendem meu dia a dia mais fácil - e até elas eu trocaria pelo prazer de viajar a cada 6 meses - para algum lugar quente, de preferência. Também descobri que sou uma pessoa metereopática (termo em italiano e não sei se existe em português) e fico muito mais feliz em altas temperaturas. Frio, para mim, é coisa de um dia. Neve é brincadeira de criança - e nestas horas sou extremamente infantil. Mas conviver com estas duas coisas não é lá coisa muito agradável - pelo menos para mim.

Não me lembro da sensação de compra do meu primeiro carro, um Fiat Uno cinza, mas ainda me lembro da viagem para Avaré, anos antes disso: "- É o cavalo!" (Só quem esteve por lá entenderá) - e o mais interessante é que cada um dos presentes também se lembra. E quando nos encontramos fica aquele cheiro gostoso de nostalgia no ar. 

E ainda tem tantos lugares que quero conhecer! Para ser sincera, eu não posso morrer sem antes conhecer a Grécia - Paraiso Natural - e percorrer o Peru: Cidade de Nazca, Cidade de Tiahuanaco, Puma Punku e  região. Lá eu quero poder andar de mochilas nas costas, sem compromisso com o tempo. Quero passar um tempo sentada em frente as ruínas sem entender o que foi que aconteceu ali. Já, na Grécia, quero desfrutar as delícias do mar Mediterraneo e ver o pôr do sol lá de cima - em Santorini a cada dia de um ângulo diferente. E registrar todos.

Sem condenar ninguém, hoje em dia é meio difícil entender as pessoas que investem seu dinheiro em casas, carros, bens materiais - e lembrem-se, eu também já fui assim. Quando a gente está lá, nos últimos dias, tudo isto passa a ser de outra pessoa. A única coisa que é realmente tua são as lembranças. E que maravilha poder me recordar de cada viagem que fiz, ao invés da televisão nova que comprei. 

As lembranças mais doces que tenho do meu pai são as dele empinando pipa, jogando bola, se aventurando com a gente. Nenhuma marca me foi deixada pelo que ele me comprou ou pelo que deixou de comprar. 

Amo a Itália, e sou muito agradecida ao Cleber por ter insistido para virmos morar aqui. Mas depois que o Renzo tiver idade suficiente para não esquecer o italiano, quero me mudar para um outro país, com outra cultura e língua diferente. E vou arrastar comigo tanto ele quanto a Luana, que para meu orgulho, escolheu seguir estudos em uma escola que ensina, além do italiano, inglês (claro!), alemão e francês - línguas escolhidas por ela - chinês e espanhol.  

Quero ensinar meus filhos a amar viagens. Quero lhes ensinar o prazer de viajar, de conhecer pessoas e lugares diferentes. Quero ensiná-los a amar as diversidades e aprender com elas. Quero ensiná-los que este é o investimento mais seguro que há, pois ninguém pode tirar de você o que voce adquire em conhecimentos e culturas. O dinheiro vai e vem. O aprendizado não. É seu e ninguem pode roubar. 

Aprendi isto um pouco tarde. Tambem fui filha do consumismo, do ter e do poder. Hoje, sou filha do amanhã. E, para viver no amanhã, é preciso ter braços abertos e coração galopante. 

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