segunda-feira, 5 de março de 2012

Non rinuncia



Sò quem està nesta espera sabe o que significa o telefonema: Tuo non rinuncia è arrivato. 

O meu nem veio assim. Na verdade, fui na Comune resolver um outro problema e quando cheguei là a moça da Anàgrafe falou que tinha acabado de receber o email do Consulado com a minha resposta. 

Nem pude comemorar! Estava em um local publico com um monte de pessoas que nao entenderiam a minha euforia. E tambem porque chegou a minha mas ainda nao chegou a da minha irma. E entramos nessa juntas. Nao acho justo que eu saia do barco primeiro que ela. Mas o fato é que se o meu chegou o dela està para chegar tambem, afinal, é o mesmo processo. Entao... sò ter mais um tiquinho de paciencia. Mas por ter sò "metade da resposta" eu sò fiquei "metade feliz". 

Mas voltando ao "nem pude comemorar", liguei para o maridao - que estava trabalhando e por isso nao podia comemorar tambem - e dividi com ele a novidade. E sò. 

Como eu disse, sò que està nessa espera sabe o que isso significa. Parece que sai um peso das costas. Agora pelo menos vou poder procurar emprego, vou poder correr atras de um monte de coisinhas que estavam emperradas por falta deste documento, vou poder levar as crianças ao médico. Coisas simples que eu nao podia fazer por nao ser uma cidada italiana. 

Agora é ver a vida rodar! Sei que algumas vezes, a roda ainda vai emperrar. Mas, pelo menos, esse primeiro obstaculo foi ultrapassado. 

Obrigada Senhor por nunca ter me desamparado, até mesmo nos dias que a duvida se apoderou da minha alma. 


sábado, 3 de março de 2012

A TRISTEZA PERMITIDA (Marta Medeiros)

Dias atras eu estava triste. Sim! Eu tambem fico triste! Eu tambem choro sem motivo - e as vezes com motivo tambem. E as vezes choro sem saber porque, ou porque coisas que nao dependem de mim nao acontecem. Mas se sentir triste nao é o mesmo que ser triste. Sò que as vezes a gente se esquece disso. 




A TRISTEZA PERMITIDA (Marta Medeiros) 
Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como? 

Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra. 

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra. 

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido. 
Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas. 

“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia. 

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.

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