quinta-feira, 5 de março de 2015

Olhares sobre mim - Parte VIII

Um presente que me dou todas as manhãs enquanto não trabalho é assistir Everwood, uma série que eu sempre quis acompanhar, mas sabe-se lá porque não o fiz. 

Nesta semana um dos personagens tentou o suicídio. E foi bem complicado para mim acompanhar o episódio inteiro sem chorar. Principalmente porque diferente de outros programas que abordam o assunto, em que o personagem carrega em si uma tristeza que vira depressão, Reid - um personagem secundário, sempre alegre, feliz, seguro de si, ativo - toma uma confecção de calmantes. 



E ele diz algo que sempre me pergunto: - "Eu não fui entrando em um estado depressivo. Um dia acordei e vi que nada mais fazia sentido. Não fazia sentido sorrir, ou simplesmente ver a vida pelo melhor ângulo". 

Me encontrei nele. Um personagem que tem menos da metade da minha idade. Assim como ele, eu sorria, cantava, olhava sempre o lado bom de tudo, dançava, era segura de mim e da minha capacidade e um dia, sem explicação, tudo mudou. 

Mas será que mudou mesmo, assim de repente? Acho que na verdade o processo foi mais lento do que imagino, mas detalhes passam despercebidos e tantas vezes mascarei minha verdade para que ninguém percebesse o que vinha acontecendo, afinal, eu precisava ser a âncora da minha familia, pois sou a ponte entre a família que já existia e a família que se formou. Mas viver assim, sustentando uma ilusão não é fácil e um dia isto desmorona. 

Algumas pessoas demonstram facilmente como se sentem ou como estão. E eu sempre achei que fosse bastante transparente. Mas nos últimos anos eu vinha me esforçando para passar uma imagem que nem sempre era verdadeira. Com medo que meus filhos caíssem em depressão por estar longe dos amigos e da outra parte da família, eu estava sempre sorrindo. Procurava motivos para isto o tempo todo. E, muitas vezes encontrei. E, exatamente por estar bem o tempo todo, ninguém - nem eu - se deu conta do que havia por trás do meu sorriso. 

Mas acho que a minha ficha começou a cair com a morte de Robin Williams, um sorriso que aprendi a admirar ainda quando criança. Não sou daquele tipo de pessoa que acompanha a vida dos artistas por isto não tinha consciência do que ele vinha passando. E quando eu soube que seu sorriso havia morrido muito antes dele, foi que me dei conta de quantas pessoas mascaram a verdade dos sentimentos. E eu era uma delas. 









Eu acho que estou caminhando relativamente bem na constante busca pela cura deste sentimento que tomou conta de mim. Mas às vezes tenho as minhas recaídas. 

Como eu já disse antes, gostaria, do fundo do meu coração que existisse uma pílula mágica que curasse tudo de uma vez, ou uma injeção, um antibiótico e, que ao final do tratamento de 7 dias eu estaria curada para sempre. Mas isto não existe. A tal cura é lenta, demorada e muitas vezes chega a ser desanimador. 

Então o jeito é levantar a cabeça e seguir em frente. Sempre. 
Porque seguir em frente é aquilo que sei fazer melhor. 

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