sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Muito prazer, sou a Cris

Quando surgiu o convite para escrever no Blog da Glê, fiquei radiante. Primeiro porque ela é uma das minhas fontes de inspiração. Segundo porque a leio há muito tempo e pude acompanhar sua evolução – e a admiro muito. E terceiro, e mais importante, porque ela é minha amiga!
Caberá a mim escrever um pouco sobre como é viver em um país diferente do seu, sobre viagens, cultura internacional e um bocado de tudo o qu considerar interessante para compartilhar com vocês. Não sou expert no assunto, mas vivo na Europa e, por conta disso, tenho a oportunidade de conviver com culturas diversas.
Pensei muito sobre meu primeiro post. E achei que, na verdade, precisava me apresentar e contar um pouco da minha história, para que vocês saibam que não estou apenas fazendo turismo – bem queria! – pela Europa.
Em 2010 começou a nossa saga: a busca por documentos para adquirir a cidadania italiana, pois eu, minha irmã e meu companheiro Cleber – não somos oficialmente casados, embora seja um dos nossos sonhos – havíamos decidido tentar a vida fora do Brasil, mais precisamente na Itália.
Nosso filho Renzo nasceu em setembro e em fevereiro o Cleber, já cidadão italiano, viajou para Mantova (Mântua, em português), cidade na região da Lombardia, onde ficou hospedado na casa de um primo, para tentar conseguir trabalho e casa para que pudéssemos ir todos. Em maio de 2011 embarquei com meus três filhos,  minha irmã e seu marido (ex-marido agora),  rumo a Mantova, nossa atual cidade.


Pensávamos que nossa cidadania ficaria pronta em três meses; infelizmente não foi o que aconteceu. Devido a um erro do consultor que cuidou do nosso processo, faltou nossa certidão de divórcio, pois tanto eu quanto minha irmã já havíamos sido casadas anteriormente. O que era para sair em três meses, demorou quase um ano para mim. O documento de cidadania da minha irmã ainda não está pronto, porque o mesmo consultou esqueceu de anexar a sua certidão de casamento também. Ainda estamos lutando para que a cidadania dela fique pronta.
Também pensei  que encontraria logo um trabalho ou que ao menos pudesse fazer serviços de manicure, pois tinha me preparado no Brasil para isto, mas como não conhecíamos muitas pessoas, não consegui uma clientela suficiente para ajudar nas despesas de casa de forma satisfatória. Por isso, comecei a fazer faxinas. Confesso que no começo foi uma coisa bem difícil para mim, pois eu não era acostumada a fazer faxina nem em minha própria casa, quem dirá nas casas de outras pessoas.
Assim que a minha cidadania ficou pronta, comecei a procurar trabalho em fábricas. Amo cozinhar, mas, sinceramente, não gosto muito desta parte de limpeza! Rs… Faço na minha casa por pura obrigação.
Meu primeiro trabalho aqui foi a pior coisa que já fiz na minha vida e, acreditem, muitas vezes senti falta da faxina. Trabalhava em uma fábrica de caixas de papelão. Era um serviço pesado, estressante e cansativo. Trabalhava por oito horas direto, sem direito a descanso de nem ao menos 10 minutos. Ir ao banheiro era a maior dificuldade, pois as máquinas não paravam um segundo sequer. Carregava peso de quase 10 quilos e chegava em casa literalmente moída. Mas fui forte e não desisti. Mesmo porque não havia como sobreviver só com o salário do Cleber. Contudo, era somente isso que conseguíamos fazer; não sobrava para muita coisa.
Durante quase um ano vivemos somente de doações de roupas e sapatos para as crianças e para nós, além da “Cesta Básica” que pegávamos uma vez por semana em uma Associação, sustentada por uma igreja da cidade. Aquele primeiro ano foi duro, mas ao menos eu podia ver este pôr do sol todos os dias. (Sou uma pessoa positiva, e embora a situação não fosse lá muito acolhedora, sempre procurei ver o lado bom de cada coisa).

Trabalhei em mais duas empresas e, atualmente, trabalho na mesma empresa nal qual o Cleber trabalha. Posso dizer que agora gosto bastante do que faço.
Amo o país que me acolheu tão bem. É claro que, muitas vezes, sinto uma saudade imensa da minha mãe e do meu sobrinho Kevin que ficaram no Brasil. Também sinto saudades do meu irmão caçula, Junior, e do meu sobrinho Arthur.
O começo foi muito difícil, pois a cultura é outra, o tempero é diferente. Como o Cleber já estava trabalhando quando chegamos, sobrou para mim a tarefa de fazer inscrição para as crianças nas escolas. Meu Deus!!! Como era difícil pedir informação ou entender o que as pessoas diziam.
Ainda hoje cometo erros imperdoáveis com a língua, mas me corrijo todos os dias. Tento ler ao menos um livro por mês para me familiarizar sempre e mais com o idioma do país em que vivo, pois para mim isto é fundamental. Conto muito com a ajuda das crianças que se adaptaram bem e falam com clareza.
Em casa falamos o português e fora o italiano. Por conta disto acho que fez uma pequena confusão na cabeça do Renzo e ele demorou um pouco a começar a falar. Com 1,6 ano ele não falava nem mammapapà direito. Mas hoje em dia ele fala os dois idiomas com clareza e sabe muito bem diferenciar um do outro. Sabe quando deve falar em português e quando deve falar em italiano.

O que eu mais gosto na Itália, principalmente na cidade na qual moro, é que meus dois filhos maiores podem ir para a escola sozinhos de bicicleta que não acontecerá nada com eles. Ninguém vai pará-los na rua para roubar um tênis, ou a bicicleta, ou o dinheiro do lanche.
Gosto do fato de saber que mesmo não ganhando muito, consigo dar para eles uma vida melhor do que a que eu vinha proporcionando no Brasil nos últimos anos. Gosto de saber que estão tendo um estudo de qualidade e profissionalizante.
Gostaria muito de poder visitar nossa família no Brasil, pois embora minha mãe tenha vindo nos visitar no ano passado, os pais do Cleber vivem lá e não têm a menor previsão de poder nos visitar, por problemas de saúde de minha sogra – além de um medo tremendo de avião! De nossa parte, ainda não há possibilidade de ir, pois hoje é inviável pensar numa viagem para cinco pessoas – o Cleber, três filhos e eu. Mas temos outras prioridades e não sofremos por isto. Aprendemos a conviver com a saudade.
Falo com minha mãe no Skype quase todos os dias. E o Cleber telefona para os pais dele também quase todas as semanas. A Luana conversa com o pai, no Brasil, sempre que possível. Sei que sou feliz aqui. De verdade. Todos somos. Temos nossos momentos de saudades. Temos nossos momentos de angústia.
A parte mais difícil é gerenciar a saudade e a carência de toda a família. Há dias que o mais velho acorda dizendo que sente falta do Brasil e que quer voltar. Em outros dias é a Luana que acorda triste porque ainda não formou um círculo de amizades que considere satisfatório. Tem dias que sou eu que sinto saudades do trabalho que fazia no Brasil e dos amigos que deixei. Em algumas dias  é o Cleber quem acorda querendo rever os pais e os amigos. No inverno parece pior. Somos acostumados ao calor, a ver sol quase todos os dias. Aqui o inverno é longo e muitas vezes rigoroso.
A boa, aliás, ótima notícia é que mesmo nos dias mais sombrios temos um ao outro. Somos uma família bem unida, apesar das brigas e diferenças. Quando um de nós não está assim tão bem sabemos que temos uns aos outros para nos apoiar. E aí recebemos um abraço caloroso, um sorriso, um “gelato”.

Apesar da saudade, viver fora é muito bom. Eu amo a Itália. E é justamente por isto que a Gleide me convidou para escrever – e também para matarmos as saudades que sentimos uma da outra!
Logo logo vamos bater altos papos. Semana que vem volto com mais histórias da vida desta brasileira aqui na Europa.
Baci nel cuore,
Cris Fagá
____________________________________________________________________________________________________
Texto originalmente escrito para minha estréia no Blog da Glë.


terça-feira, 12 de agosto de 2014

Quando o engraçado não é feliz.

Sinceramente, eu nunca fiquei realmente triste com morte de atores/ cantores/ pessoas famosas em geral. Somente duas vezes fui invadida pela mesma tristeza de perder alguém de quem gosto muito. A primeira com a morte do papa João Paulo II e hoje com a de Robin Williams. 


E, que me desculpem os que são contra demonstrações de tristezas só porque um dia ele falou mal do Brasil. Eu também já falei. Do Brasil, da Itália, de São Paulo e de tantos outros lugares e pessoas do mundo. E só por causa disto não mereço admiração pelos meus outros feitos? O cara era fantástico! Tantas vezes acordei e meu primeiro pensamento foi : -Booooooommmmmmmm diiiiiiia Vietnã! 

Cresci vendo seus filmes. Ele fez a mim - e outros milhões de pessoas -chorar, rir, se emocionar. Comédias com ele eram risadas garantidas. Dramas com lágrimas inclusas. Ele sempre nos tocou no mais profundo dos sentimentos de cada um de nós. 



Mas o que mais me chocou em sua morte, não foi o fato de perdermos um grande ator - sim, ele era estupendo! E sim o fato de que me dei conta, pela primeira vez aos 43 anos, de que "o engraçado não é feliz". 

Quantas vezes ele nos fez rir quando internamente sua alma chorava. 



E ainda mais: quantos de nós sorrimos quando não há motivos para risos? Quantos engraçados com a alma em prantos encontramos em nosso dia-a-dia? E quando será que seremos sensíveis o bastante para perceber que por trás de cada sorriso há - ou pode haver - uma dor escondida? 

Por um mundo onde a sensibilidade humana seja capaz de transformar sofrimento em alegrias para que não hajam tantos "Robins Williams" portadores de tristezas escondidas. 

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...