quarta-feira, 27 de março de 2013

Como vim parar na Italia

Primeiro: Nao fazia parte dos meus planos - embora fizessem parte dos planos do meu marido. 

Meus planos eram envelhecer no meu apartamento na Vila Matilde. Apartamento que eu comprei - ou dei entrada - com tanto sacrificio e anos e anos de FGTS. Apartamento que paguei algumas das 240 prestaçoes totais. Era ver meus filhos crescendo ali, saindo dali para se casar, para se formar, para viajar. Era ver meus netos entrando por aquela porta para passar o final de semana com a vovò. 

Mas Deus tinha outros planos para mim. E o meu sonho caiu por terra. Fui parar em Extrema - uma cidade onde nao pensei que pudesse ser, mas onde fui muito feliz. Foram apenas um pouco mais de 1 ano porque - de novo - Deus tinha outros planos para mim. 

Nao escolhi morar na Italia. Nao escolhi estar aqui. As coisas foram acontecendo, sem planejamento. Sabe aqueles caminhos e sinais que começam a aparecer? Foi bem assim. Em um dia eu fazia planos para trabalhar e viver em SP. No outro estava em Extrema e no outro estava arrumando as malas para vir para a Italia. 

Nao foi facil, devo admitir. Tomar a decisao de deixar toda uma vida - quase 40 anos - para tras foi assustador. Mas contei com o apoio dos meus filhos e da familia. Confesso que a coisa mais dificil foi deixar minha mae no Brasil, alem do meu irmao e dos meus sobrinhos. Essa é a parte que doi. A saudade. Essa é uma coisa que nao passa nunca. Alias, aumenta com o tempo. A gente sò aprende a conviver com ela e aprende a nao deixar ela te machucar tanto, mas ela é constante. Està sempre ali. 

A chegada tambem nao foi como eu esperava. Meu marido estava aqui jà ha 3 meses e - por menor que fosse o tempo - tivemos que reaprender a viver juntos. E tivemos que aprender a viver em um novo paìs, com novos costumes, nova lingua, enfim, novo tudo. 

Para completar, viemos sem dinheiro. Entao, dependiamos somente do salario do meu marido que nem é tanto. 

As crianças tiveram que aprender a ir para a escola. Tiveram que aprender a falar uma nova lingua e tiveram que aprender a escrever em uma nova lingua. 

Tive que aprender a viver sem amigos - pelo menos por perto - e essa é tambem uma parte dificil. O isolamento. 

E o pior de tudo. Achei que em tres meses minha cidadania estaria pronta e eu encontraria um trabalho. Em maio faz 2 anos que estou aqui e, embora tenha trabalhado um pouco, nao posso dizer que estou empregada. 

Agora tambem nao faço planos de voltar a viver no Brasil. E o motivo é simples: aqui vivemos melhor com o pouco que temos. Quem mora por aqui sabe o que estou dizendo. É absurdo pensar que no Brasil se paga mais de R$ 2.00 por um litro de leite enquanto que aqui pagamos €0.50.

Mas tambem aprendi que os planos nao sao meus. Sao DELE. E do mesmo modo que vim parar aqui na Italia, posso amanha estar em qualquer outro lugar do mundo. Basta apenas ELE me mandar os sinais e me mostrar onde devo ficar ou para onde devo ir, o que devo fazer e o que devo esperar. E, como todas as outras vezes, obedecerei a Sua vontade. 

sexta-feira, 22 de março de 2013

Falta

Sinto tua falta. 
Sinto falta do teu cheiro, da tua barba por fazer. 
Sinto falta de andar de maos dadas com voce, de sair para dançar, e até mesmo de nao sair, sò dançar, na sala de casa ao som de Frank Sinatra. 
Sinto falta da tua eloquencia. 
Sinto falta do teu silencio, do teu mau humor, das tuas piadas sem graça. 
Sinto falta das tuas historias interessantes e daquelas desinteressantes tambem. 
Sinto falta das tuas broncas, dos teus sermoes repetitivos. 
Sinto falta do teu abraço, do teu beijo, de deitar no teu colo. 
Sinto falta de ouvir tua tosse irritante, teu sorriso contagiante, tua gargalhada sem motivo. 
Sinto falta do teu assovio, da tua voz, do teu grito. 
Sinto falta das tuas maos grandes que as vezes entrelaçava os dedos nos meus cabelos. 
Sinto falta dos teus NAOS. 
Sinto falta das tuas lagrimas quando me colocava de castigo ou quando me levava para tomar injeçao. 
Sinto falta do teu ronco que eu odeio tanto porque as vezes nao me deixava dormir.
Sinto falta da tua companhia. 

Essa ausencia tua, muitas vezes, machuca meu coraçao. 



segunda-feira, 11 de março de 2013

Aparencias enganam

Sim! Eu estou completamente feliz aqui no país onde escolhi para viver. Mas por questões que nada tem a ver com o financeiro. 

Foi em 2007 quando pisei pela primeira vez no meu apartamento financiado pela Caixa Econômica. Foi um dos dias mais felizes da minha vida. Achei que envelheceria ali depois de - é claro - pagar os 25 anos de prestações.

Sò que a minha vida mudou completamente. Saí da empresa onde trabalhei por 8 anos e montei uma Agência de Viagens que não deu muito certo. Depois de 2 anos de luta tive que fechá-la. Graças a Deus sem dever nem um centavo a clientes e fornecedores. 


Um ano depois eu vendia tambem meu apartamento - e meu carro - por não haver mais condições de pagar as respectivas prestaçõs. 

A intenção de me mudar para Europa não foi para ter uma vida mais fácil, ou para juntar dinheiro. Foi apenas para poder dar para meus filhos uma educação de qualidade, ja que infelizmente no Brasil só se tem educação de qualidade estudando em ALGUNS colégios particulares. 

Eu, sem um centavo no bolso, aceitei a sugestão do meu marido e da minha irmã de nos mudarmos. Foi ela quem me emprestou o dinheiro para pagar as passagens minhas e dos meus filhos. Dinheiro este que ainda não paguei, porque quando cheguei aqui fiquei mais de 1 ano sem trabalho. E assim foi. E assim ainda é. 

O ano passado foi um ano difícil em questães financeiras. Mas, diferente do que acontecia comigo no Brasil, nao passei dificuldades. Comemos bem, moramos pertinho do centro, perto das escolas das crianças, e pudemos até passear. Compramos um carro - por 150 euros - e assim meu marido pode ir trabalhar todos os dias, já que na cidade onde moro transportes públicos são péssimos. 

O salário do meu marido foi suficiente para nos sustentar. E pudemos fazer alguns passeios - já que aqui a gente não precisa de tanto dinheiro como no Brasil para viajar de um lugar para o outro. Gasto menos indo para Veneza do que gastava para ver a minha mãe no litoral.

A diferença entre aqui e ai é que uma Punto 97 custa 150 euros, enquanto no Brasil custa R$ 6.000,00. 1 kilo de carne custa 8 euros e nao R$ 15.00. Ah tá se converter dá quase no mesmo? Só que aqui, uma pessoa que ganha 1000 euros consegue comprar um carro e ainda pagar o seguro em apenas 1 mês. No Brasil se a pessoa ganha R$ 1.000,00 precisa de no mínimo 6 meses para conseguir comprar o mesmo carro velho que tem por aqui. 

Eu sou feliz aqui. 

Ainda não estamos financeiramente definidos - e nem sei quando estaremos - mas aprendi que não é isso que me importa. Sou feliz de uma maneira que nunca fui. Aqui tenho tempo para meus filhos, tenho tranquilidade quando eles vão para a escola porque sei que ninguém vai lhes abordar no meio do caminho para lhes roubar um tênis que nem é de marca. Aqui sei que posso parar no semáforo com a luz vermelha acesa, com o vidro do carro aberto que não serei abordada por nenhum deliquente querendo roubar a frente do rádio ou até mesmo o meu carro. Aqui não sofrerei sequestros relâmpagos para sacar a merreca que tenho - ou teria - no banco. Aqui sei que meus filhos estão tendo um ensino de qualidade.

Então, não! Nao fiquei rica só porque fui morar na Europa. Aliás, sou ainda mais pobre do que era no Brasil. Mas tenho uma riqueza que ninguém pode tirar de mim: o meu sorriso e o sorriso da minha familia. A cada novo nascer do sol. 

segunda-feira, 4 de março de 2013

Amadurecer



Um dia comum. Passando pela ponte que atravessa o lago da cidade para ir para a casa da minha irma para ir buscar o pequeno que tinha ido dormir na casa dela me deparo com uma cena: um casal parado no meio da ponte, olhando para o lago e se beijando. Um beijo simples, um sorriso escondido, um abraço aconchegante. 

Nao tinha glamour, nao tinha produçao, mas tinha emoçao. 

Meu sorriso foi de orelha a orelha. Um dia tao comum, um gesto tao simples e arrancou de mim uma paz, um bem estar. Impossivel nao ver duas pessoas expressando amor e nao se sentir bem. Como tambem è impossivel estar ao lado de casais que brigam, se xingam, fazem cara feia um para o outro e nao se sentir mal. 

O fato é que neste exato momento eu pensei: Serà que estou ficando velha e sentimental ou sempre fui assim? Nao me lembro realmente de nos tempos da minha juventude ter observado esses detalhes do cotidiano. Um casal de namorados, uma folha que cai, um por de sol avermelhado.... 

Talvez o apreciar venha com a idade, com a maturidade. Ou serà apenas que nao me lembro destas cenas.

Sei que no exato momento que me dei conta da beleza do mundo, me dei conta tambem que precisei envelhecer para enxergar o que me rodeia. 

E entao, agradeci a Deus cada ano vivido, cada ruga adquirida, a barriga meio fora de forma e me dei conta de que nao quero outra coisa do mundo senao a minha maturidade que me faz enxergar as pequenas coisas que sao capazes de mudar o dia. 

Um otimo dia a todos
E que a semana de voces seja repleta de pequenos momentos magicos. 

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